Saber a hora de deixar algo de lado é valioso.
A sabedoria de desistir
Por Frederico Mattos
Sabe,
eu lido com pessoas o tempo todo, meu trabalho vai na direção de tornar-me um
atalho que ajude uma pessoa que sofre a ser mais consciente de si e, portanto
suportar a dor até que possa se libertar daquilo que a aprisiona e faz mal.
Curiosamente
o motivo pelo qual muitas pessoas se debatem interminavelmente é a fixação
incessante em algo que consideram bom, gostoso ou vantajoso. Ainda mais
emblemático é notar que mesmo que esses bons atributos já tenham ido embora a
pessoa permanece lá, como um cão solitário esperando pelo dono que nunca vem.
O
Budismo explica que a raiz de todo o sofrendo é o apego, mas um tipo de apego
que é mais uma insistência em algo que sabemos ser mutável, imprevisível e
finito, a vida. Quando nos apegamos cegamente a algo ou alguém esperando que
isso não mude e nos dê satisfação perpétua estamos caindo numa armadilha
perigosa.
Sabe
aquela arapuca óbvia de pegar passarinho? Caímos nela diariamente ao idealizar
que as pessoas, incluindo nós, não mudam e que seus sonhos e desejos podem ser
congelados numa bolha protegida. Nesse mundo onde ansiamos por segurança mora
toda a dor que experimentamos.
Queríamos
permanecer jovens e envelhecemos, queríamos ficar saudáveis e adoecemos,
queríamos passar na faculdade e não passamos, queríamos amar alguém especial e
quando ele chega o achamos chato. Estamos
presos na rosa interminável do apego a velhas ideias, conceitos antigos e
desejos ultrapassados. É o novo que nos apavora, aquele mesmo que cantamos aos
quatro cantos do mundo que queremos ver de frente. Quando a mudança traz o novo
congelamos de medo. Deixamos o sonho engavetado, recuamos para o mesmo e
seguimos a vida queixando inutilmente o que poderia ter sido e não foi.
Saber
a hora de deixar algo de lado é muito valioso, é coisa daqueles sábios que na
hora definitiva seguem seu caminho sem olhar para trás. É preciso ser gente
grande para poder deixar-se o tempo todo e ainda assim ter muito mais de si a
oferecer. Gente pequena briga por migalha, pouca coisa e brigas vãs.
São essas que
morrem de tristeza e se arrastam sozinhas querendo que todo mundo siga sua meia
dúzia de regras sem sentido. Tudo para manter cada peça sob controle. Essas
coisas se sentem como coisas.
Se quer ser gente grande, aquelas que os outros
respeitam sem que precise argumentar precisa saber principalmente deixar e
deixar-se ir todo dia. E a cada dia que passa depositar sua cota de identidade
no passado e seguir para o desconhecido. Aquele bom e incontrolável que
denomino como: dia de hoje.
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Fonte do artigo: Entenda os Homens
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