saber sofrer.
Saiba sofrer
Por Frederico Elboni
Sentir a dor é necessário. Mas sentir
mesmo, não jogar por baixo dos panos sem reorganizar e inverter as prioridades.
Digo chorar, sofrer, consternar-se, para depois ser digno de sorrir
verdadeiramente.
A gente só sofre por algo que ainda não entendemos ou
aceitamos. Talvez poucas pessoas saibam disso,
mas eventualmente isso mostre um pouco do viés da vida. Eu perdi meu pai e
minha irmã nessa minha curta jornada de vida. Confesso que pra mim não há
sofrimento maior do que esse, tão grandioso que talvez até hoje eu ainda não
saiba onde colocar toda essa saudade. Talvez nos meus sonhos ou na minha
vontade de viver, vai saber…
Se eu não tivesse sentido o que
deveria ser sentido na hora eu provavelmente estaria sofrendo e confuso até
hoje. É como botar um ponto final em uma paixão, saudade ou desavença com ódio,
seria assegurar um sofrimento prolongado onde o ato de sofrer estaria sempre no
presente. E eu precisava saber separar o passado do presente.
Sim, saber sofrer é uma inteligência
emocional. Mas sofrer de não saber onde colocar a dor, de querer explodir em um
quarto de quatro paredes, de se perder dentro de casa, mas principalmente
dentro de você.
Sabe, talvez esse texto com sensação
de nós sentados na varanda do meu apartamento tomando um vinho – cabernet
sauvignon que na minha opinião combina com o inverno – seja a sensação de
identificação mais gostosa que exista. Não quero falar difícil, brincar com os
dizeres ou tentar intumescer a sua vontade, na maioria das vezes infantil, de
dizer ao mundo que você está melhor. Sofrer cuspindo suas pseudomelhorias ao
mundo é coisa de adolescente e amadores.
Aceite estar desolado, mas não se
desnude perante os outros. Sente-se no seu quarto, sala, ou até naquele sofá
perto da varanda – igual ao meu – e leia um livro, respire, chore e guarde
essas dúvidas e certezas pouco assentidas pra ti. Lide com isso de forma
madura, aprenda a ser gente grande na marra, dome seus sentimentos e coloque-os
no seu devido lugar. Cure suas mágoas clareando os seus horizontes e não
postando fotos segurando um copo de bebida em uma festa despovoada de verdades.
Sofrer verdadeiramente não te faz
menos homem ou mulher. O que te faz mais homem ou mulher é saber sofrer com
maturidade.
O vazio da vida pesa. Pesa por não
nos dar direção, por nos desnortear enquanto vida, mas principalmente por não
fazer a gente se encontrar conosco. O vazio da vida está em viver protegido,
sem amar, sem sofrer, sem arriscar, sem admitir a si quem você é, sem tirar as
máscaras dos pudores, dos medos, dos preconceitos…
No auge das minhas vivências acredito
que quanto mais velhos ou mais perto da morte ficamos mais perdemos a
capacidade de mentir para nós mesmos. Parece que cada vez mais entendemos a
importância de ter vivido uma vida digna de sentimentos e fluências
verdadeiras. Os sentimentos vão ficando cada vez mais à flor da pele, pois só
temos uma única chance de sermos verdadeiros. Pessoas em seu leito de morte são
pessoas de verdade.
Esse é um texto da vida real, daquela
que não se tem objetivo de ludibriar nem enaltecer ninguém, mas sim juntar
pessoas e fazê-las sorrirem ou chorarem juntas. Então hoje eu escrevo para
momentos. Que mudam de endereço, mas não de identificação. Que mudam de
intensidade, mas não de insignificância. Que mudam de coração, mas não de
essência. Pois quando a gente aprender a respeitar os momentos, talvez a gente
aprenda a respeitar as pessoas.
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Fonte do artigo: Entenda os Homens
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